sexta-feira, 17 de junho de 2011

ORAÇÃO DO MATUTO

ORAÇÃO DO MATUTO
(Fátima Irene Pinto)
Ói Deus, nóis tá sempre pedino as coisas pro Sinhô. Nóis pede dinhero, nóis pede trabaio, nóis pede pra chovê, e se chove demais, nóis pede pa pará, mode a coiêta num afetá. Nóis pede amo. Nóis pede pra casá. Pede casa pra morá. Nóis pede saúde. Nóis pede proteção. Nóis pede paiz. Nóis pede pra dislindá os nó, quando as coisa cumprica, mode a vida corrê mió. Quano a coisa aperta nóis reza pidino tudo que farta. É uma pidição sem fim. E quano as coisa dá certo, nóis vai na igreja mais perto, e no pé de argum santo, que seja de devoção, nóis deixa sempre uns merréis, e lá no cofre da frente, nóis coloca mais uns tostão. Mais hoje Meu Sinhô, bateu uma coisa isquisita, eu me puis a matutá. Nóis pede, pede e pede, mais nóis nunca pregunta, comé que o Sinhô ta. Se tá triste ou tá contente. Se percisa darguma coisa, que a gente possa ajudá. E por esse esquecimento, o sinhô tem que nos adiscurpá. Ói Deus, nóis sempre pensa que o Sinhô num percisa de nada, mas tarvez num seja assim. Tarvez o Sinhô percisa de mim. Sim, o Sinhô percisa, sim. Percisa da minha baundade. Percisa da minha alegria. Percisa da minha caridade. No trato c’os meus irmão. Nóis semo Seu espêio. Nóis semo a Sua Criação. Nóis num pode fazê feio.  Nem ficá fazendo rodeio. Nem desapontá o Sinhô. Nem amargá o Seu sonho, que foi um sonho de amo, quano essa terra todinha crio. Ói Deus, eu prometo, vo rezá de ôtro jeito. Vo pará com a pedição, e trocá milagre por tostão. Tarvez eu inté peça uma graça, mas antes vo vê direitinho, o que é que andei fazendo de bão. E se nada de bão eu encontrá, muito vo me envergonhá, e ainda vo pedi perdão.

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